Terça-feira, 22 de Fevereiro de 2005

COMPLEXOS DE ESQUERDA

Palavra, eu votei no Sócrates ou lá como ele se chama. Isso mesmo. Votei no PS, sim. Foi uma mania que me deu. Meteu-se-me na cabeça que o País precisava de ser governado. O mais à esquerda que pudesse ser, mas sendo governado. E depois, mania atrai mania, queria que a coisa se governasse mesmo e então achei que a maioria absoluta fosse bom. Cheguei a pensar que estava maluco, porque a maior parte da malta da esquerda me dizia que o PS só é de esquerda se governar em liberdade condicional. A modos que com uma dessas pulseiras electrónicas que se metem no pulso e dão sinal de alarme quando se faz xixi fora do penico. E eu, crédulo até mais não, achava que se o PS contava para a maioria de esquerda no ir a votos também era de esquerda no dia a seguir às eleições. Mas eu devia ver, pelo que os outros da esquerda diziam, que não era assim, que o PS seria de esquerda quando fizesse a política e as vontades à sua esquerda, os da esquerda mesmo. Foi um voto contraditório, o meu. Um voto quase envergonhado. Com uma estranha sensação de estar a votar a pensar esquerda e, no dia seguinte, passar a fazer parte da direita pós-eleitoral. E que avisado fui. Das bandas do Bloco e do Jerónimo, bem se fartaram de me avisar. Que havia a esquerda boa e a esquerda má. E que a esquerda má quando não é controlada pela esquerda boa torna-se em direita que só será esquerda quando seguir a política da esquerda mesmo esquerda. E se a esquerda má tinha a vitória assegurada, a esquerda boa é que era precisa para tornar a esquerda má em boa. Com a esquerda má segura pela trela. Não dei ouvidos às muitas vozes avisadas e apanho com a maioria absoluta do Sócrates ou lá como ele se chama. Não fui à festa, não fiz festa. Porque me sinto em estado de esquerda culpada. Ajudei a tirar-lhe a pulseira electrónica do pulso da esquerda má, deixando-a à solta. E menos vigiada, a esquerda pouco esquerda não é esquerda nem é nada. E se não é esquerda, só pode ser direita. E assim, depois de tanto pensar que era de esquerda, vejo-me a pertencer à direita. Porque, no raio deste País, a maioria esmagadora é mesmo de direita. Confirmou-se. Tirando os 14% da esquerda mesmo esquerda, a direita é mais que imensa (só se distingue nas nuances de extrema-direita, direita e esquerda/direita). Esmagadora. Demasiada. Impedindo que este País guine à esquerda. A chatice toda é que não posso votar outra vez, ir lá rectificar o meu voto, limpando-me do ónus da maldita absoluta. Daqui por quatro anos falamos. Claro, se a luta de classes permitir que aguentemos mais quatro anos de direita. É isso, a luta de classes. Ao fim e ao cabo, a democracia burguesa vale o que vale. Valha-me a luta de classes para redimir o meu mau voto, a minha falha absoluta. Decididamente, quando se perde o jeito para a luta de classes, só se asneira no voto. Proletários e Radicais, Uni-vos! Eu estou convosco por penitência. Avé CGTP e Opus Gay, Altares da Esquerda.
publicado por João Tunes às 16:58
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Segunda-feira, 21 de Fevereiro de 2005

ONDE MEXE MEXIA?

Onde parava o redactor-chefe do programa de governo PSD e ex-futuro superministro Mexia na noite do desastre eleitoral? Não reparei que acompanhasse o seu amado líder mas agora um escolho por mor da derrota.

Não me digam que foi à Guarda confraternizar com o autor da criatura para comemorar outros resultados.

O homem trata bem de si.
publicado por João Tunes às 23:24
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AGORA

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Agora há que governar. E governar bem. Se sempre se precisa de um bom governo, a actual situação exige-o. E, para isso, o PS e Sócrates não têm desculpa alguma para a incompetência ou para a insensibilidade. E muito menos para o autismo. Não esperava tão bom resultado, enganei-me e ainda bem que me enganei. Desejo-lhes, desejando-nos, boa sorte.

A direita teve uma derrota histórica. Esta direita mereceu-a. Teve-a. Bem feito. Agora amanhem-se. O alívio é nosso.

O esquerdismo reivindicativo e radical, seja à Louçã ou à Jerónimo, ficam a valer o que valem agora – uns bocadinhos mais crescidotes. São franjas que, enquanto o forem, valerão pelo necessário contributo crítico, se o souberem exercer. Não mais que isso, com olhos à medida das barrigas. Oxalá a impossibilidade de bloqueio e de chantagem (com que contavam e foi gorada) dê, pelo menos ao Bloco, a capacidade de se tornarem forças de responsabilidade na solução dos problemas, ultrapassando a matriz da perspectiva de verem os processos eleitorais como peças instrumentais ao serviço da luta de classes ou das performances de protesto.





publicado por João Tunes às 00:53
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Domingo, 20 de Fevereiro de 2005

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publicado por João Tunes às 12:15
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Sexta-feira, 18 de Fevereiro de 2005

SIM, ZAPATERO

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Um dos factores que me motivam a acompanhar a acção do governo de Zapatero, é a sua mescla de medidas que ora se revelam firmes e inteligentes enquanto parece titubeante e frouxo noutras tantas. Ou o homem é mestre na arte de uma no cravo e outra na ferradura ou então tem uma natureza errática, controlada ou não. O certo é que, para dentro da sociedade espanhola e na cena internacional, Zapatero se afirma na dimensão de estadista. Veremos se passa as próximas provas, nomeadamente se vence o desafio do terrorismo, sem dúvida o mais difícil de todos porque, no caso, se trata de lidar com uma patologia assassina e para a qual a habilidade política é menos que suficiente.

Um membro do governo do PSOE do tempo de González foi condenado, em tribunal, por causa de uma fraude com apropriação em proveito próprio de dinheiros do Estado na lide com fundos destinados ao subsídio de acções ilegais no campo da segurança. Aproveitando a última vitória eleitoral do PSOE, uma vaga de aparelhistas liderada pelo próprio Felipe Gonzaléz, achou que haviam as condições para que o Governo aprovasse um indulto ao prevaricador. Ou seja, a redenção de um crime por mérito partidário. Zapatero não cedeu. E, por isso, ouviu todo o tipo de insultos que se seguiram à espiral de pressões. Mas Zapatero não cedeu. O que, suportando os custos intra-partidários, representa uma forma de regeneração do PSOE, limpando-o da lama da corrupção e do clientelismo partidário que fora uma imagem do gonzalismo e motivo principal do seu afastamento do poder.

Zapatero fez bem em não ceder. Dá-lhe o mérito da higiene política. Oxalá o exemplo prospere na família socialista onde quer que os seus membros tenham poder entre mãos. Também pela honestidade deve passar a linha divisória entre esquerda e direita.





publicado por João Tunes às 23:56
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AO MANEL

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Homem bom com gosto pelo gostar e pelo pensar simples em qualquer beleza escondida, fazendo dela poesia como fala franca. Um homem com sorte também, o meu amigo Manuel, sobretudo pela companheira que soube conquistar e a quem deixou que o ganhasse. E pelos tantos que o estimam e admiram. No baú dos meus tesouros de homem entre humanos, está lá o privilégio da sua fraternidade que é a forma mais nobre de se ser amigo.

Hoje é dia de lhe desejar muitos e bons e que o partido da alegria lhe reserve sempre maiorias absolutas.



publicado por João Tunes às 18:46
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DESGOSTO ANTECIPADO

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Estou mais para a calma que para a euforia. O que for se verá. Mas, desde já, conto com um desgosto para a noite de domingo: não ver entrar no Parlamento dois bons amigos – o João Carvalho Fernandes
e o Jorge Afonso. E daí nunca se sabe (as sondagens não são mega-fraudes?) – um está em 7º lugar e o outro em 20º na lista por Lisboa do PND. Será que dá para entrarem os dois ou, pelo menos, o cultivador do gosto pelos puros? Mas que são homens de integridade a toda a prova, disso não restem dúvidas. E, só por isso, dariam bons deputados. E o facto de não partilhar com eles a mesma forma de pensar, não retira nada ao meu desgosto antecipado.

Isto é uma chatice. Um tipo farta-se de ver tipos que não conhece de qualquer lado, a quem olharia de lado se pedissem o carro emprestado, a encherem os passos perdidos, depois tem dois amigos investidos em candidatura e não os vê a tercerem armas nos debates parlamentares? Se os dois não entram, domingo à noite vai-me deixar um travo de injustiça. Vamos ver...


publicado por João Tunes às 17:56
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CHISSANO ARMADO EM SPARTACUS?

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Como previsto, a Universidade do Minho concedeu o doutoramento honoris causa ao ex-Presidente Chissano. Era previsível. Sabe-se que o núcleo duro daquela Universidade veio da antiga Universidade de Lourenço Marques. E uma parte dos antigos colonos ou acentuam as justificações míticas dos seus feitos ou tentam redimir-se pela penitência. Infelizmente, só uma outra parte consegue sair da refrega cultural e ideológica do passado, via sentimento de perda, por uma via sem complexos (ou seja, sem noção de contas a pagar ou a receber). O que, neste caso concreto, não diminui em nada, na apreciação académica, a admiração merecida para com esta Universidade dinâmica e que veio, além de muito mais, modernizar uma face do Minho.

Sabe-se que os ex-Presidentes têm uma atracção irresistível para, abandonado o poder, se redimirem dos compromissos acumulados nos seus mandatos através de liturgias exorcistas de valorização da crítica moral e radical. Afinal, um mero processo de compensações, por reequilíbrios purgantes, para a acumulada perda de contacto com a realidade que a imersão nos salões dos palácios do poder lhes retiraram. Como se o poder lhes tivesse tirado a luz do brilho das dores dos humanos e depois, enfim soltos, a liberdade dos comuns lhes cegassem os olhos, apetecendo-lhes resolver o que não resolveram e de uma penada. Lembrando Soares - o homem que intensificou os salários em atraso, meteu o socialismo na gaveta e foi muleta importante do cavaquismo -, não anda agora por aí armado em pró-bloquista, disputando rebeldias com o radicalismo de sacristia do Louçã - o homem das mil santidades para os mil pecados? E se Soares, o imenso Soares, assim se tornou, porque é que o manhoso do Chissano havia de degenerar à sina dos seus iguais em circunstâncias?

Pois o Presidente que, no seu mandato, tudo permitiu (ou incentivou?) para que o seu povo regredisse para o abandono, consolidando-se a transferência do processo de substituição da dominação colonial pela da máfia frelimista, agora o núcleo duro da acumulação capitalista selvagem e acelerada para construção instantânea de uma grande burguesia nacional, recebeu o doutoramento honroso da Universidade do Minho. E discursou como discursam os radicais esquerdistas africanos. E ouvindo-o, até parece que Chissano se dá hoje às liberdades de homilia próprias de um virtual bloquista à moçambicana.

E que desafio nos trouxe Chissano? O de Portugal e outras potências coloniais, mais os outros países que beneficiaram da escravatura (supondo-se que isso inclua todos da América do Norte, do Sul, mais a Central), apresentarem aos povos africanos “desculpas oficiais pelas atrocidades cometidas”.

Esta é uma reparação devida porque o comércio negreiro é uma das páginas mais vergonhosas do esbulho humano. Mas, se incompleta, torna-se injusta e cínica. Aos Países a que Chissano dirige a sua reclamação, haverá a juntar os necessários pedidos de desculpa de África aos africanos, em nome dos seus chefes tribais que levaram os escravos até aos postos de comércio negreiro. Porque não foi a Europa que ensinou aos africanos a arte da escravidão. Ela já era prática corrente nesse como noutros continentes. Porque escravizar é sempre mais fácil que libertar. O que o comércio negreiro, levado por portugueses e outros, trouxe de diferente aos chefes tribalistas e dominadores africanos foi um maior, global e valorizado mercado. E não valerá a pena lembrar (como foi o caso no Congo) as resistências furiosas e aguerridas que a abolição da escravatura pelos países europeus enfrentou perante os clans africanos que, assim, viam perder-se uma riquíssima receita.

Não direi que Chissano devia, no seu doutoramento, pedir desculpa aos moçambicanos pela forma como supervisionou os seus destinos nos seus anos de presidência. Porque acho que esse pedido de desculpas deve acontecer em solo moçambicano. E seria de mau gosto neo-colonial fazê-lo em Braga, perante aquela típica Academia. Mas não devia, pelo menos, armar-se em paladino do sofrimento africano com culpas repartidas. Ele, particularmente ele. Mas, sabe-se, nos ex-Presidentes há uma terrível pulsão para soltarem a língua. Então, se desculpamos Soares porque não perdoar a Chissano?











publicado por João Tunes às 16:55
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Quinta-feira, 17 de Fevereiro de 2005

DOMINGO ANTECIPADO

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Tudo indica que domingo vamos ter uma derrota nítida de Santana Lopes e o PS a olhar atarantado para a maioria relativa que se lhe sentou no colo, sem saber como lidar com ela.

A ser assim, o resultado também será uma derrota de José Sócrates e do PS que escolheu este líder. Porque talvez não volte a acontecer a circunstância de um partido ter um naipe de circunstâncias tão favoráveis como as que se lhe ofereceram no quadro fresco da incompetência máxima a governar que foi esta passagem de Santana Lopes por São Bento.

Merecidos são um e outro castigo. Na medida em que se entenda castigo como forma de punição de pecado. Mas a questão está em saber se interessa punir ou redimir.

Infelizmente, no caso, castigar não é parte da solução. A menos que houvesse hipótese de reedição com ajuste de casting, de dinâmica e, sobretudo, de projectos. Não é o caso. Porque estamos a falar de governação de um país em situação crítica dos pontos de vista da economia, do tecido social e da auto-estima.

Com maioria relativa do PS, impossíveis que são os entendimentos na banda esquerda (só por diletantismo, eles podem ser postos como exequíveis), das duas uma: ou saltamos para um processo de crises sucessivas (e o País aguenta?), ou então a configuração de, com um PSD revisto e liberto das tralhas santanista e barrosista e da aliança com um parceiro pérfido e vampiresco, a reedição de uma fórmula de bloco central (um retrocesso para a ambiguidade geradora de novas crises com o preço de nova descaracterização do PS e que desembocaria no acentuar do mito messiânico de Cavaco).

Pela minha parte, confesso, gostaria que Sócrates e o PS fossem castigados com a maioria absoluta, responsabilizando-os pelas mudanças necessárias. Melhor, absolutamente responsabilizados perante o País. Sem álibis de qualquer espécie e sujeitos a todas as pressões de esquerda. Com a festa possível do castigo adicional e merecido para quem andou armado em Primeiro-Ministro como se isso fosse parecido com ir beber um copo a um bar depois de jantar. Nas alternativas à vista, desconsolo por desconsolo, esta via parece-me a melhor para a esquerda e, sobretudo, para o País. Mas eu só tenho um voto. E não quero mais que este ínfimo poder de cidadania.











publicado por João Tunes às 22:58
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O FENÓMENO JERÓNIMO

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A revelação-coqueluche desta campanha, em termos mediáticos, é, sem dúvida, Jerónimo de Sousa. E, assim, alguma razão terá Louçã para se queixar da perda de colo nos media.

O relacionamento popular como se o País se tivesse transformado numa Festa do Avante, os fatos de feira de subúrbio, os sublinhados através de ditos e provérbios, o vazio desesperante do discurso melódico-romântico dos ontens que cantaram, o apelo nostálgico à tristeza dos excluídos, a cara larga com sorriso de fivela e a manápula de antigo polícia militar, transformaram-no num estereótipo em que se reconhece na ribalta política aquele canalizador prestável que nos salvou a casa da ameaça de inundação quando uma torneira da cozinha deu o berro. Tornando num facto excitante, para mais numa campanha sensaborona, a proeminência de um dos do povo metido em altas cavalgadas política, à mistura com doutores e engenheiros. E o patético da sua perda de voz em pleno debate só veio realçar esse lado de sociedade recreativa que Jerónimo introduziu na campanha, ou seja, a desigualdade social servida no banquete da alta política. Porque só um pobre cairia ali no estúdio e em directo, derrotado pela afonia. E mesmo um rico gosta de ter pena dos pobres porque precisa disso para salvação da alma (desde que o pobre não lhe exproprie os bens, é claro).

Mas, no fundo, o truque Jerónimo não passa de uma expressão da mais rotunda duplicidade. Porque se a sua imagem simplória passou e passa é porque a marca PCP, que ele levantou à mais alta expressão façanhuda no último Congresso, levaram à expectativa de que dali ia sair agressividade e intolerância. Entrado em campanha, Jerónimo quis fazer passar a imagem do duro dentro do Partido e simpático e tolerante quando desce à rua. Ao fim e ao cabo, uma forma de populismo. Porque deste há de todas as cores e também se pode pintar de vermelho.





publicado por João Tunes às 17:12
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