Perdoa-lhes, meu caro
Domiciano Barrocal Gomes Cavem. Sobretudo porque agora pouco mais podes fazer que perdoar. Quanto tempo tinhas de andar para trás até ao tempo em que, em vez de lhes perdoares, eu te pediria que lhes explicasses o que representava esse emblema que penduraste no peito, correndo-o em maratonas de competições, e que agora eles se servem para se alaparem, desculpando descalabros, na tribuna VIP do estádio novo onde nunca jogaste. Em tempos estes em que uma entrevista vale mais que uma camisola suada.
Mas perdoar o quê? Eu digo-te: isto que leio
aqui e que diz que, no teu funeral que estará a ser a esta hora, o Sport Lisboa e Benfica estará representado pela Dra. Paula Pinho, vice presidente da Assembleia Geral.
E eu pergunto: não tens, na despedida, direito a um Presidente? Estão todos demasiado ocupados em negócios ou coisas tais? E não sobrou nenhum (vá lá, do Conselho Fiscal que fosse) para afirmar alto que tu foste um pilar da grandeza da instituição? Que, sem teres sido um génio, por não se seguir a tua escola de entrega e dedicação, é que as coisas estão como estão. Que explicassem que, sem tu e outros mais, nenhum dos génios brilharia fossem Eusébio, Coluna, José Augusto, José Águas ou Simões. E se muitos não sabem quem é
Cavem é por coincidência venturosa dos teus tempos em que os génios foram ofuscados pelo génio maior, e os
aguentas (os que faziam o trabalho de
formiga para que os génios estendessem o tapete dos seus talentos), como tu, apagavam o nome em face do brilho de um naipe de muitos fora-de-série, demasiados para que a tua entrega e disponibilidade fossem famosas da fama devida.
No fundo, bem se entende. Os Presidentes não foram à tua despedida por vergonha. Porque nenhum tem o teu estofo de bi-campeão europeu. Nem por lá perto. Porque não passam de Presidentes de uma choldra vivendo da memória das glórias passadas de que tu foste obreiro. Vivem à tua pala e de outros tantos mais. Mandaram uma Vice porque eles são menos que Vices da tua categoria. Por isso, estão absolvidos, mais que perdoados. Descansa em paz, é desejo de quem ainda guarda uma faísca de brilho nos olhos dos tempos em que te vi correr segurando o
nosso emblema no peito E que é amuleto da minha única religião.