
Num post, o
Altino Torres, assume-se como comunista de voto, identificando-se com o PCP sobre um certo ponto de vista ideológico (que não explicitou). Depois, lamenta que quase ninguém fale sobre a sucessão de liderança no PCP e verbera que em vez de um debate de ideias presentes se insista nas ideias calcinadas por preconceitos datados como a antiga União Soviética e o facto de ser o PCP um partido anti união europeia.
Dissesse o
Altino que era militante do PCP, e eu ficaria caladinho que nem um rato. Porque, então, haveria uma desproporção quanto a espaços próprios de discussão e a blogosfera seria mais um sítio de ruído que de troca de ideias. Como fala na qualidade de eleitor, então o caso muda de figura, uma igualdade está estabelecida (seremos ambos
só eleitores, embora com escolhas diferentes eu voto, por regra mas sem contrato, CDU nas autárquicas e PS nas restantes escolhas) e julgo que algum debate é possível. Quanto a preconceitos, já não terei grande certeza em que eles não venham para cima da mesa (os meus, pelo menos), mas isso logo se vê. Haja elevação e os preconceitos poderão ser mondados durante a ceifa (pouco ortodoxo mas enfim).
Sobre a sucessão de Carlos Carvalhas, já lhe dediquei mais que um post. Até, atrevimento de um eleitor, me pronunciei sobre
quem devia ser o próximo Secretário Geral, naquilo que me parece ser a única e última hipótese de haver uma inversão de marcha na tendência de declínio de penetração política e social do PCP. Portanto, neste peditório, quem estará em falta será o
Altino de que não conheço a sua posição (a menos que a resposta esteja no refúgio de o Congresso é que decide).
Estou de acordo com o
Altino, embora não utilizasse os mesmos termos (mas isso é questão menor), sobre a necessidade de regeneração efectiva de um partido que detém sobre si a responsabilidade de levar a cabo uma postura séria e capaz, eivada de propostas políticas justas e mais próximas de todos aqueles que vivem em condições menos interessantes e, por isso, têm necessidade de não serem apenas lembrados em épocas eleitorais. Porque a resposta a muitos dos anseios das camadas marginalizadas (sobretudo dos pontos de vista social, económico e dos direitos fundamentais) necessita de uma representação que não tem expressão nos restantes partidos à direita do PCP (PS incluído). E a coisa (o vazio de preocupação e de representação) agravou-se com a opção do PS por Sócrates. E, pelo que se vê, para as práticas sindical e autárquica do PS não se vislumbram medidas regeneradoras e revigorantes. Continua pois a haver um largo espaço de representação de anseios à esquerda do PS. E aqui, naturalmente o PCP tem um desafio de saber ou não saber lidar com esta fatia de cidadania e de eleitorado. E a medida em que segura a sua penetração declinante na fuga para o voto útil (PS), para o radicalismo bloquista ou para a abstenção (e, qualquer dia, para o populismo de direita).
O busílis está no desejo do
Altino em que o
debate, falando-se do PCP, nãos se
calcine na antiga União Soviética e nas questões europeias. Mas essa
agenda não é imposta de fora. É intocável vinda de dentro, na defesa de uma intra-caracterização. Para estas questões saírem da conversa, é necessário que, primeiro, o PCP as resolva e nos diga como as resolveu. Se alguns pressupostos de identificação são pedras de toque (o marxismo
-leninismo, o centralismo democrático, a sacralização do Sector Empresarial do Estado, a amizade com Cuba e a Coreia do Norte, etc), como passar-lhes ao lado? Será possível? E como? (pergunto agora eu)