
Com o passar do tempo, continua a quebra da bitola do aceitável e do decente. Resultado: sermos cada vez menos exigentes para com as capacidades e os desempenhos.
Em situações
normais, independentemente da orientação política dominante, duas actuações dariam lugar a afastamentos: a tirada do Ministro Gomes da Silva sobre o Professor Marcelo e o escrito de Luís Delgado a
ordenar internamento em manicómio de um contraditor. Uma coisa e outra deviam ser incompatíveis com a continuação do desempenho dos lugares ocupados. Mas tudo como dantes. Têm cobertura (prévia ou posterior), ficam impunes, podem continuar a degradar o nível e a responsabilidade dos lugares que ocupam, outros se podem seguir, dizendo e escrevendo o que lhes vier à cabeça. O governo, sem autoridade de legitimidade e de competência suficiente, não tem capacidade, talvez nem vontade, de prestigiar a intervenção pública de quem de si depende. Um ministro, ou um alto dignatário da comunicação social (num grupo onde o Estado tem poder de controlo) podem falar e escrever com se fossem cidadãos vulgares com blogue aberto.
Verdade que o grande precedente foi aberto com a longa tolerância para com Jardim. Esse está adquirido como sendo inimputável e pode dizer e fazer tudo que lhe dê na bolha. Neste caso, como seria nos Açores se uma figura daquelas por lá abancasse, usa-se a tolerância do
paternalismo continental, dando desconto de exigência cívica aos
ilhéus (coitados, estão lá nas Ilhas
). Mas admitiu-se, durante muito tempo, demasiado tempo, que Jardim era um
caso à parte, enfim um sujeito irresponsável que preenchia a quota dos bobos do reino, porque de muitas bandas se achou graça ao sujeito pela forma como ele se excedia nos excessos.
Como era previsível, os maus exemplos também se pegam. E não tardaram a aparecer os candidatos a clones do
inimputável Jardim. Estão aí. Andam à solta. Tenderão a crescer e a multiplicarem-se.