
Em tempos, quando carpi vontade de voltar a África, mostrando raivas de redimir as condições das vezes em que tive que lá ir (o que não me impediu de ficar admirador profundo das terras e das gentes), o
Jorge Neto, generosamente, convidou-me logo para ir ter com ele até à Guiné-Bissau. Eu agradeci a cortesia, mas por aí me fiquei por saber que as hipóteses de ter coragem para lá voltar tinham as pilhas num estado desgraçado de energia. E muito menos me aprestaria a incomodar gente ocupada nos seus tratos e afazeres sem para isso ter suficiente crédito de confiança. E, depois, conseguiria ter olhos enxutos para olhar Bissau, Pelundo, Canchungo, Catió, Gadamael e Guileje? O mais provável era que visse sem conseguir ver, amarrado à memória dos anos de dores ali penadas.
Pelos vistos, o
Jorge é mesmo homem de prazer imenso no partilhar os seus gostos por África e os seus apegos às boas gentes da Guiné. E será assim que ele espalha convites a tudo quanto é amigo, por entender que qualquer alma fica em melhor estado depois de,
in loco, sentir os cheiros, os verdes, os costumes e os seres (que resistem à falta de teres) das gentes africanas. E se a mim faleceu a vontade de aceder-lhe ao convite, houve quem lhe saltasse o pé para a descoberta e se dispusesse a desembarcar em Bissau na boleia do acolhimento do
Jorge que garantira previamente ao conviva, condições de paz e de boa saúde. Pois a coisa correu de tal forma e circunstâncias, que o
Jorge se retrata, pede desculpa e desaconselha repetição nos ímpetos de aventura a outros eventuais interessados. Pelas razões que ele bem explica e que merecem ser lidas, pois além do mais, há li boa, sincera e solta prosa.
É caso para dizer: ainda bem que me encolhi. Pelo menos, enquanto os militares balantas, assanhados no seu ajuste de contas tribais, andarem para lá aos tiros por dá cá aquela palha e ser à rajada de metralhadora que exigem pagamentos dos salários em atraso. E como as contas estão por ali em permanente baralho, o mais provável é que a confusão perdure.
Obrigado
Jorge, pela franqueza da retirada do convite. Para mim, tem o mesmo valor cavalheiro e amigo do imprevidente convite antes endereçado. E aquele abraço com desejo que as coisas lhe corram sem qualquer percalço. Já agora, se não é pedir demais, não esmoreça em nos manter informados sobre como as coisas correm por aí.