Chissano anda em digressão por terras moçambicanas a despedir-se do
seu povo. Antes de se retirar para o palácio de reforma em que, no resto dos seus dias, vai olhar para Maputo do outro lado da baía. Alardeando justificações e prestações de contas, o que o Presidente moçambicano está a fazer é propaganda institucional, tentando consolidar a transferência de poder para o seu sucessor frelimista Guebuza. Um dia se saberá o que é significativo saber deste homem vindo das profundidades do aparelho da Frelimo, ajudou à deriva marxista-leninista e, morto Machel e afundado o socialismo real, fez a agulha para a economia de mercado, a amizade com o capitalismo, a voragem construtiva da burguesia do capitalismo selvagem à moda moçambicana. A sua capacidade de se conter, debaixo de uma máscara (que provavelmente também comporta o peso de inferioridade face à esposa negociante de imóveis e terrenos privatizados e um filho que algumas vozes associam ao gangsterismo), não pode esquecer que ele foi um homem do socialismo científico em África e depois o obreiro da transição para a cleptocracia em roda controlada e abençoada pelo FMI (num caso e noutro, o povo moçambicano só foi perdendo cada vez mais).
Provavelmente, a Chissano vai suceder Guebuza, pior que Chissano. E sobre este, remeto-vos para um homem que vive Moçambique no coração o
estimado Carlos. E, é claro, pior que Guebuza, quase só Dlakama. Que posso fazer? Pouco. Quase nada. Mas não dispenso partilhar um pouco da mágoa para com a desdita desse povo magnífico que está preso na teia dos meus afectos. Dizendo, gritando, pelo menos aqui, que a maioria dos moçambicanos é bem melhor que os cleptocratas que os governam e os que lhes comem na mão.