Quinta-feira, 7 de Outubro de 2004

UMA ESCOLHA DE PALHA

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Até ao conhecimento da decisão decerto já tomada, não irão parar os palpites sobre quem vai suceder a Carvalhas. E até se fazem apostas. Se Jerónimo parece o melhor cotado na bolsa das opiniões (por ser o charmoso proleta do grupo, uma espécie de António Mexia à moda do PCP), também se aventam Francisco Lopes e Jorge Cordeiro (apagados funcionários e burocratas sem chama). E outros pássaros irão esvoaçar. Sendo o mais provável que a surpresa esteja decidida e fique bem guardada até à hora H. Porque só será conhecida depois do ritual de consagração (por unanimidade e aclamação, é claro) no primeiro conclave do CC saído do próximo Congresso.

Aqui, convém recordar que o SG do PCP não é eleito em Congresso, onde apenas se elege (ou ratifica) a composição do Comité Central, ou seja, a lista proposta pela direcção cessante. Depois, o CC (revisto e aumentado relativamente aos membros votados em Congresso, pela cooptação de uns tantos sob proposta do executivo anterior), reúne (e sempre sob proposta do executivo anterior), elege a Comissão Política, o Secretariado e o Secretário Geral. A isto se chama a decisão colectiva: os militantes e os próprios delegados ao Congresso (eleitos sempre por proposta dos respectivos órgãos executivos) preparam (podendo apenas propor emendas às teses aprovadas pela direcção cessante) e aplaudem um Congresso, não votam sequer a totalidade do CC e não riscam absolutamente nada sobre a composição da direcção executiva e idem para o líder do partido. Na prática, há uma continuidade de controlo sobre as decisões que recai sobre o núcleo de confiança, melhor dizendo a velha guarda dos companheiros de Cunhal, na sua maior parte da equipa dos velhos clandestinos ainda vivos. E tem sido esta tradição nunca interrompida que tem constituído a muralha de aço que resiste a qualquer renovação e que assegura o prolongamento da concentração efectiva de poder nas mãos de uma fracção, composta pelos que foram promovidos enquanto acólitos de Cunhal.

Pelas circunstâncias, os velhos clandestinos não tiveram condições para suceder a Cunhal e menos terão de suceder a Carvalhas. Resta-lhes controlarem a renovação, assegurando que as escolhas recaiam sobre homens de palha da nova geração mas perfeitamente dóceis na definição da linha política e na tomada das grandes decisões.

A maioria dos jovens de palha, os que aparecem à luz do dia, pertencem à fornada dos funcionários recrutados após o 25 de Abril (ou com poucos anos de militância nesta data) e foram moldados na forja da mentalidade, dos métodos e do pensar dos velhos clandestinos, de quem cumpriram ordens no período revolucionário e com quem aprenderam a ser bolcheviques, tendo gasto anos a fio na aprendizagem dos métodos burocráticos e da “linguagem de madeira” do processo interno de comunicação, enlace e decisão. Por regra, são homens baços, com capacidade repetitiva, usando tiques imitados dos mais velhos, para quem a disciplina se confunde com obediência, sacralizando o estereótipo da linha do Partido como autoridade decisória supra (vinda do além), desprovidos de capacidade de rotura ou de divergência pelo tempo de interrupção da actividade profissional e com poucas possibilidades de a retomarem pelos enormes custos de recomposição perante o mercado de emprego.

Lidando com estes jovens de palha, os velhos dirigentes cortam politicamente como faca em manteiga. Mimando-os no trato considerante de lhes subirem a auto-estima, chamando-lhes de revolucionários profissionais, e dando-lhes o prazer da representação de sucessores dos heróicos resistentes contra a Pide e o fascismo, destinados a serem os coveiros do capitalismo e do imperialismo. Assim, esta “nova geração” (a maioria na casa dos cinquenta anos de idade) sente-se projectada na história, tradição e martírio do PCP. E tende naturalmente a reproduzir fenómenos de conservação patrimonial numa história feita de real, de fantasia, de heroísmo e dedicação, de omissões e de mentiras, mas com um princípio (a tradição antifascista), um meio (a luta contra a burguesia e a traição interna) e um objectivo de redenção (um qualquer e indefinido socialismo pré-Gorbatchov).

A velha guarda decidiu e decidirá, até que a nova guarda esteja suficientemente envelhecida para a render. Para já, eles lá sabem, e um dia nos dirão, qual vai ser o novo e jovem SG do PCP, gasta que ficou essa representação (perfeita mas com prazo) chamada Carlos Carvalhas.











publicado por João Tunes às 00:41
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De Carlos a 7 de Outubro de 2004 às 01:49
'tá a ver João? Respondeu por mim à sua pergunta. E bem explícito foi do que é preciso mudar: tudo. O que não acredito e acabarão por só jogar no regional_digo, sindical. O que também não será eterno.


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