
Para as gentes de esquerda, impacientes com o nível de desgovernação atingido pela indigência santanete, o grande suspiro é pela chegada da hora da alternância desejada e necessária e antes que a leviandade governativa se torne inimputável.
Para muitos, temerosos que o PS, só por si, não consiga assegurar e sustentar a convergência de vontades e de votos, é irresistível a atracção pela defesa da aliança de
toda a esquerda, tentando que se apresse uma
frente de unidade do PS ao BE, passando pelo PCP.
Julgo que, aqui, a vontade suplanta a objectividade, preferindo-se uma fórmula oca como meio de acelerar a pressa. Porque, e a realidade é esta, os factores de diferença entre as
esquerdas são tão significantes em questões políticas cruciais que deitar tudo na mesma panela daria esturro mesmo antes de se acender o lume.
Para o PCP, o PS sempre foi, a governar,
igual ou
pior que o PSD e a direita. Com ou sem razões, como é que a
aliança, quando se traduzisse em coligação de governo, teria o poder milagroso de
recuperar o PS para a
esquerda, segundo os conceitos do PCP? E se a
aliança tivesse esse poder automático, então isso teria outra leitura que o PS assumir que o PCP era a
essência da esquerda?
E como tornear as grandes e decisivas divergências de fundo entre o PS e o PCP? Metendo-as na
prensa frentista para desalojar a direita? E essa
prensa teria o
poder milagreiro de ultrapassar visões antagónicas sobre a economia, a União Europeia, a NATO, as relações geoestratégicas e tanto mais? Ainda, e sobretudo, sobre a
democracia que, para o PCP, tem os seus bastiões maiores em Cuba, na Coreia do Norte, no Vietname, na China e no Laos?
E como se entenderiam os dirigentes do PS a negociar com a direcção do PCP, cujos cordelinhos continuam a ser puxados pela velha guarda bolchevique conservada no tempero do azeite e vinagre da saudade do
socialismo pré-Gorbatchov?
Relativamente ao Bloco, quais as vantagens do PS em aliar-se a uma frente de maoistas-albaneses, trotsquistas, gays, libertários e outros mais, para quem a essência está no folclore radical da eterna representação do
contra?
Se no plano social, nomeadamente no que respeita aos trabalhadores, apesar do enorme ataque aos direitos destes, no nível mais baixo da defesa dos direitos, não foi, nem se vislumbra, a unidade de facto, na acção, entre a CGTP e a UGT.
Se nas autarquias, o único exemplo de unidade que resta é o caso de Lisboa e que curte o seu malogro de não ter sido capaz de derrotar Santana, mostrando-se incapaz de progredir para outros concelhos onde o
sucesso da esquerda seria pouco problemático.
Praticamente têm-se perdido todas as oportunidades e circunstâncias, para criar uma nova atmosfera de
entendimento à esquerda e as plataformas práticas e parcelares desse caminhar. Provavelmente, as culpas estarão repartidas. Mas então, há que andar antes de iniciarem correrias adivinhando trambolhões.