
É um mistério, para mim, entender como é que um povo guerreiro, agora decadente e subalterno, teve e tem (e terá?) o direito a ter as mulheres mais bonitas do mundo. Provavelmente, obra do compromisso entre os deuses e a genética. Ou manobra de grito decente para vergonha dos racistas que empestam o mundo.
Nada se aproxima dos calcanhares da beleza da mulher núbia. E tanto os deuses se devem ter esmerado a esculpir no feminino que acabaram bem à pressa, de qualquer maneira, os rostos dos seus vulgaríssimos e desinteressantes companheiros do sexo complementar. Talvez porque eles valorizavam tanto o poder da guerra, da conquista e da submissão e as ausências em pelejas, sobrou vagares à natureza para dedicar às mulheres núbias o deleite da estética refinada no esculpir da elegância do corpo, a apurar as linhas do rosto e inspirarem-se no desenho da profundidade penetrante do olhar.
O povo núbio sabe dessa riqueza não disputada. Por isso mesmo, não permitem os casamentos das mulheres núbias com homens exógenos à etnia. Depois, a mais valia das economias são investidas a cobri-las em ouro (desde a infância) com o pretexto de as proteger de azares da sorte. Pois, riqueza com riqueza se paga. E se guarda.
Já que quiseram subjugá-los, os nobres núbios não mereciam bem mais o ataque da inveja que a vergonha da submissão? Mas porque raio é que, com tanta religiosidade à solta e emprestada à ideologia da opressão, se atacam os deuses no melhor que fizeram e deixaram como herança?
(Foto de Pedro Tunes)