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Há nomes com ressonâncias maiores que os sons e os conteúdos. Porque nos põem a imaginação a acrescentar muito ao real, transformando-o.
O
meu querido amigo Victor, reincidindo, voltou a colocar uma das suas belas imagens, como esta, aqui copiada, da
Mata dos Medos. Que é uma mata vulgar, bonita como é uma mata, ali para os lados do Cabo Espichel e Aldeia do Meco. Creio até que o melhor que tem esta mata é o nome. O que não é pequeno mérito, diga-se. Isto se fossem elas, as matas, a escolherem os nomes. O que não me parece que seja norma de decisão toponímica por mais avançada que seja a democracia autárquica. Quando, ainda por cima, estas democracias (as autárquicas) costumam preferir a autarcia à democracia. Adiante.
Pois, de cada vez que o
Victor, nas suas imagens de poeta vagabundo a procurar o norte na margem sul, nos mostra a
Mata dos Medos, eu lembro, com uma ternura que me tornam os olhos macios, a minha ligação com esta Mata. E se o conto é, não tanto para embaciar os óculos, mas sobretudo para homenagear (mil que fossem, que não me cansava a alma) a sensibilidade deste meu amigo e nosso artista. Por isso, eu conto.
Durante anos a fio, os meus passeios de lazer fizeram-se por aquelas bandas, ou seja, no percurso Fernão Ferro Sesimbra - Cabo Espichel Aldeia do Meco Fernão Ferro. Com a tribo encaixotada no móvel, com destaque numerário para a garotada que, amontoada no banco de trás, afastava o tédio das curvas e curvinhas através da jovialidade repartida como é uso entre irmãos e primos mais que irmãos. Na estrada secundária perto do Meco, lá aparecia uma placa indicando um destino terciário a tal
Mata dos Medos. E, passando ali, a garotada calava-se num repente. Depois, a reivindicação ia subindo de tom a exigir desvio para o destino que lhes devia fazer prever bruxas e demónios. Com a mania pragmática de cumprir destinos, avaliada a relatividade da designação, o motorista (eu, por norma) teimava em não desperdiçar desvianços. O que não conseguia mais que acentuar a carga de mistério excitado em cada vez que a placa da
Mata dos Medos voltava a entrar pelos olhos dentro. Até que um dia, a vontade da garotada viajante viu cumprida a sua vontade. O desvio foi feito num silêncio de chumbo, os olhos pequenos a espreitarem, medrosos, pinheiros, matagal e as suas ameaças. Na paragem feita, no meio da
Mata, foi dar tempo a esvaziar-lhes o medo dos olhos. E, no regresso, escutar-lhes o silêncio da desilusão que havia tomado o lugar do silêncio do medo. Nem uma bruxa ou feiticeiro, pigmeu ou duende, alçapão ou ratoeira, aranha-gigante ou camaleão a imitar dinossauro anão, apenas uma mata como as outras matas. Assim, foi-se-lhes o medo na
Mata dos Medos.
Toma nota, amigo
Victor, de mais esta dívida que tenho para com o teu blogue. E que me traz de volta a meninice ainda mais pequena da minha tribo comprida e que me dá a grande razão para continuar vivo, umas vezes com medo e outras a passar-lhe ao lado, fingindo não o sentir.