
Pois a discreta entrada de Pina Moura na Administração da Galp Energia tem muito que se lhe diga. Por más razões.
Claro que Pina Moura entra, formalmente, para lugar não executivo e em representação da espanhola Iberdrola de que ele é presidente na filial portuguesa (e a Iberdrola tem 4% do capital da Galp).
A questão está para além do formal. Pina Moura foi o estratega da célebre, embrulhada e nunca esclarecida entrada da ENI no capital da Galp. Além de ter sido o génio que descobriu esse génio chamado António Mexia, foi-o buscar à banca (BES) e meteu-o, primeiro no negócio do gás natural e depois à frente da petrolífera nacional. Ora, a entrada de Pina Moura para a administração da Galp dá-se exactamente no dia seguinte ao da visita de Mincato (o presidente da ENI) a Lisboa para conversações sobre a Galp com o ministro Álvaro Barreto e de onde terá saído um acordo de protelamento da decisão sobre a petrolífera para ultrapassar o chumbo de Bruxelas (como qualquer negociador de peso, Mincato terá dito sim ao adiamento mas, deduz-se, deverá ter obtido contrapartidas que, obviamente, são segredos de negócio).
(segundo constou, Mincato, quando no PCI, terá sido camarada de curso de marxismo-leninismo em Moscovo - antes da tragédia de Domingos Abrantes - de Pina Moura, então delfim de Cunhal, de onde terão regressado como camaradas e amigos, o que é naturalíssimo entre colegas de curso que criem empatia)Por outro lado, politicamente, Pina Moura apareceu ligado à organização do Novas Fronteiras de Sócrates, pelo que se presume que, hoje, tenha voltado a ser figura influente no círculo que se prepara para dirigir o previsível próximo
poder rosa.
As dúvidas e as conjunturas têm aqui pano para mangas. Mas, claramente, é um mau prenúncio que o estratega que armou a
barafunda guterrista sobre o sector energético nacional, uma trapalhada de tamanho tal que não há meio de se deslindar nas voltas e reviravoltas que tem tido, acabe por se sentar na Administração da Galp no preciso momento em que o
poder laranja está por um fio e o
poder rosa (neo-guterrismo?) se prepara para trepar para os lugares dos ministros santanetes.
Pina Moura vale 4% na Galp (percentagem da Iberdrola no capital da petrolífera)? É isso que está para se ver.