![lthumb.mdf858643[1].jpg](http://agualisa.blogs.sapo.pt/arquivo/lthumb.mdf858643[1].jpg)
Dresden nunca se conformou, com razão, da razia bárbara a que foi sujeita faz agora 60 anos. Bárbara pelos efeitos e porque foi militarmente inútil em termos de efeito no desfecho da guerra. E pela violência de bombardeamento massivo de um alvo civil quando os nazis já estavam a beijar o pó da derrota.
Quando visitei Dresden, há 25 anos atrás, pude observar o extraordinário esforço de reconstrução (de uma das mais imponentes cidades europeias) e a forma como, em lembrança da barbárie, se conservavam alguns pontos intactos da violência do espectáculo das ruínas provocadas pela aviação anglo-americana. Na altura questionei o porquê daquela celebração oficializada pela RDA. Deram-me a versão oficial os anglo-americanos tinham bombardeado Dresden para que a pujante cidade não servisse de suporte à edificação do socialismo (já tinha havido divisão das zonas de ocupação da Alemanha e sabia-se que Dresden ficaria na zona soviética). Achei a tese a puxar para o simplismo propagandístico mas o certo é que, até hoje, não encontrei uma justificação de jeito. O mais provável é que o bombardeamento de Dresden não se explica porque não tem explicação. Ou tem-na e ela é inconfessável. Mas a história não devia ter este ponto em branco.
A memória e a história vivem mal com os buracos negros do silêncio que nos oculta a compreensão dos factos. E desses silêncios e pactos de esquecimento, quem lucra são os que defendem as causas mais retrógadas. Do desconhecido que se esquece, há quem aproveite para desfraldar as bandeiras mais sujas de lama. Foi assim hoje. Os neo-nazis apropriaram-se do martírio de Dresden para saírem à rua. A tragédia de Dresden devia ser chorada por gente de mãos limpas. Mas quando estes se distraem e assobiam para o ar, sujeitamo-nos todos a que os vândalos se apoderem do palco.
Adenda: Tinha a esperança que o
Lutz me (nos) esclarecesse. Tiro e queda, está lá.